Mercado de Trabalho versus Oficinas de Teatro Espontâneo, Drama e Sociodrama para o Desenvolvimentodas Habilidades Socioemocionais.
O mercado de trabalho no contexto do capitalismo sempre foi tratado como um recurso, dentro do ciclo de vida dos processos produtivos. Por sua vez, o fechamento dos campos para tornar possível a migração de trabalhadores para as indústrias nas áreas urbanas, na florescente industrialização da Inglaterra, até os processo de mecanização das atividades produtivas, e mais recentemente, através dos recursos da inteligência artificial, a preocupação sempre tem sido: a) reduzir a capacidade humana na execução dos processos operacionais; b) a superação humana na velocidade de processamento e capacidade de armazenamento de dados, informações e conhecimentos; c) auferir mais lucratividade, produtividade e redução de tempo das operações.
Apesar de inúmeros pesquisadores internacionais já terem constatado que o problema da relação patrão x empregado é a concepção antropológica que fundamenta o modo de produção empresarial, o mesmo acontecendo no ambiente educacional, consideramos que o problema está no plano ontológico que define e antecede o modelo antropológico das organizações e escolas públicas.
Os sistemas educacionais e de capacitação empresarial sempre adotaram no discurso a necessidade da criatividade, da espontaneidade e da sensibilidade como recursos necessários para o desenvolvimento de um ambiente de trabalho passível de inovação, tanto científica, quanto tecnológica, e por sua vez saudável. Entretanto, na prática isso não aconteceu dessa forma.
Assim, criou-se tanto na empresa, quanto no ensino básico, trabalhadores e alunos com uma capacidade reduzida de utilizar a sua criatividade, espontaneidade e sensibilidade, em função das metodologias racionais adotadas, promovendo alunos e trabalhadores suscetíveis a diferentes patologias.
O contexto educacional e empresarial até o presente momento foi pautado por controle de comportamento, o que tornou possível pedagogicamente e metodologicamente, que tanto alunos, quanto trabalhadores, fossem respectivamente “recursos humanos” do sistema educacional e do modo de produção capitalista.
Aqui se estabelece o nexo de causalidade entre sistema produtivo, educação e saúde, como auto implicados em todas as etapas do ciclo de vida dos processos produtivos (extração de matérias-primas, produção, distribuição, circulação, consumo e disposição final), o mesmo acontece nos meios educacionais.
Como essa perspectiva parece não ter dado muito resultado, vem-se recentemente intensificado novas buscas na “gestão das emoções” dos ambientes de trabalho e nas escolas através do desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais, considerando o alto grau de adoecimento no âmbito psicológico e psiquiátrico da sociedade globalizada e seus impactos financeiros no sistema educacional e empresarial.
Entretanto, mesmo num contexto controverso, onde as novas saídas apontadas para resolução desses conflitos se embasam nos mesmos princípios, como tornar possível a retomada da criatividade, a partir do resgate da espontaneidade e da criatividade, e, portanto da “gestão das emoções” para promoção da inovação tanto científica e tecnológica?
Essa visão determinista racionalista ainda impregnada nas instituições e nos sistemas educacionais e empresariais, está sendo orientada para adoção das habilidades socioemocionais, agora para formação de um novo cidadão e de um novo trabalhador.
Não podemos esquecer que estamos dentro de um contexto, que não permite o desenvolvimento das habilidades socioemocionais de alunos e trabalhadores, tentando caminhar numa via diferente. Eis o desafio presente: Como criar novas perspectivas humanas, se ainda estamos atrelados às conservas culturais, institucionais, educacionais e empresariais que não permitem essa perspectiva?
No ano de 2019, o Brasil após várias discussões e eventos lançou a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) que integra dentre seus princípios as habilidades socioemocionais como um dos pilares para formação de recursos humanos desde o ensino básico.
Enquanto política pública a BNCC aponta os meios para que as habilidades socioemocionais sejam implantadas no âmbito educacional, que terá reflexos sobre o ambiente empresarial. O ambiente empresarial está sendo chamado de “indústria 4.0” em função da integração da inteligência artificial em todas as etapas dos processos produtivos de todas as empresas, inclusive no âmbito educacional (edtechs).
Nesse contexto, tanto no lado educacional (professores e alunos), quanto no lado empresarial (trabalhadores) estão sendo exigidas que todos os processos até então desenvolvidos conforme a lógica racional, agora sejam tratados numa perspectiva socioemocional, com vistas a geração de inovações, tanto científicas, quanto tecnológicas.
O ciclo completo de um processo de intervenção passa pela: investigação, intervenção, avaliação e inovação. Nesses casos, haverá necessidade de uma fundamentação pedagógica que dê suporte para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, que não as historicamente desenvolvidas no âmbito da psicologia, da pedagogia e da sociologia da educação, e que por sua vez necessitará de uma nova metodologia de ensino e aprendizagem fora dos modelos racionais tradicionais.
É nessa perspectiva que surge a socionomia, área de investigação desenvolvida pelo médico psiquiatra romeno, Jacob Levy Moreno, que tem por objetivos o processo terapêutico grupal, numa perspectiva curativa através do sociodrama.
No âmbito da socionomia, temos a sociodinâmica que trata dos conflitos entre papéis e contra-papéis sociais e a sua metodologia denominada “role playing”; a sociometria que mensura as relações grupais e seus diferentes níveis de sentimentos, através do teste sociométrico; e, a sociatria através do sociodrama realizada o processo terapêutico nos grupos em processo terapêutico.
Assim, para trabalhar nessa outra perspectiva, tanto os sistemas de ensino e aprendizagem, tanto empresariais quanto educacionais devem partir de metodologias ativas, dentre as quais podemos citar, jogos, oficinas de teatro, drama, e sociodrama e mais de 300 técnicas e jogos dramáticos.
Convém ressaltar que através da socionomia moreniana aplicada no âmbito terapêutico e também pedagógico, a mesma apresenta uma fundamentação e metodologia passível de avaliação e controle dos seus resultados de investigação, intervenção, avaliação e inovação, tanto para o contexto educacional, quanto empresarial, sem nenhum tipo de problema.
Logo, os resultados das aplicações dos sociodramas nos ambientes educacionais e empresariais, ao serem aplicados exigirão uma reorganização institucional do ambiente escolar, e uma nova concepção sociométrica da estrutura organizacional das empresas, para que aquilo que se buscou resposta, consiga ser implantado de forma efetiva para o bem estar da coletividade global.
Harrysson Luiz da Silva é Professor Pós Doutor da Universidade Federal de Santa Catarina, Psicodramatista Socioeducaional e Líder dos Grupos de pesquisa do CNPq Resolução Científica de Conflitos e Inteligência Vibracional Reversa – IVR
Antonia Benedita Teixeira é Pedagoga e Psicodramatista Socio-educacional. Produtora Cultural e Membro do Grupo de Pesquisa do CNPq da UFSC.
Colaboração de Amyra El Khalili, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2020